No segmento upstream, a ENH actua em representação do Estado na pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural em todas as áreas de concessão, com um mínimo de participação de 10 por cento.
Upstream
Bacia de Moçambique
O Contrato de Partilha de Produção (PSA, na sigla em inglês) foi assinado em 2000 entre o Governo, a ENH e a Sasol Petroleum Moçambique, Lda, uma afiliada do grupo Sasol, para pesquisa e produção de hidrocarbonetos na área Pande e Temane, excluindo os reservatórios Pande Grudja (G6) e Temane Grudja (G9), alvos do Contrato de Produção de Petróleo (PPA). A Sasol detém 100% das acções e a ENH tem opção de adquirir até 30% do interesse participativo.
O PSA preconiza a produção de 23 milhões de gigajoules de gás natural por ano e de 4000 barris de petróleo leve por dia, num investimento de 760 milhões de dólares americanos. O gás natural será usado para a geração de 450 megawatts de energia através da Central Térmica de Temane, um projecto envolvendo a Sasol, a empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM) e a Globelec. O projecto prevê ainda a construção de uma fábrica para a produção de 30 mil toneladas de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL), também conhecido como gás de cozinha. Enquanto isso, o petróleo leve destina-se à exportação.
Trata-se de projectos estruturantes para Moçambique, que cimentarão a posição do país como um pólo energético regional, à altura de responder às necessidades domésticas e contribuir para a satisfação da procura da região.
Particularmente, a fábrica de GPL será a primeira do género no país, devendo reduzir as importações desta fonte energética em cerca de 70%. Para a ENH, em particular, este projecto abre perspectivas de se tornar num importante player na cadeia de valor da indústria de GPL downstream, uma vez que é a entidade responsável pelo marketing do produto no mercado doméstico.
A primeira pedra dos projectos do PSA foi lançada em Março de 2022 e a produção de GPL e de petróleo leve deverá iniciar em finais de 2024.
O Contrato de Produção de Petróleo (PPA, na sigla em inglês) foi assinado em 2000 para pesquisa e produção dos jazigos de Pande e Temane. A ENH participa neste projecto através de uma afiliada, a Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA (CMH), que detém 25 por cento do interesse participativo. A Sasol Petroleum Temane (SPT) é o operador, com uma participação de 70 por cento, sendo os restantes 5 por cento detidos pela International Finance Corporation (IFC), do Grupo Banco Mundial.
Este projecto, que está em produção desde 2004, integra uma Central de Processamento (CPF) de gás natural e um gasoduto de 865 quilómetros, dos quais cerca de 500 em Moçambique, que transporta gás natural a partir da CPF, em Temane, em Inhassoro, para Secunda, na África do Sul.
Além da construção de um gasoduto de 865 km de Temane a Secunda, na África do Sul, com capacidade de transporte de 212 milhões de gigajoules, o projecto Pande e Temane permitiu a construção de um gasoduto de 100 km de Ressano Garcia para a região industrial da Matola e da rede de distribuição de gás natural de Maputo e Marracuene, com mais de 100 km de extensão, a qual conta actualmente mais de 500 consumidores, entre industriais, comerciais e domésticos.
O empreendimento de produção de gás de Pande e Temane também impulsionou e permitiu a expansão da rede de distribuição de gás do norte de Inhambane, que abastece gás canalizado aos distritos de Vilankulo, Inhassoro e Govuro, havendo actualmente mais de 3 mil consumidores nos segmentos industrial, comercial e doméstico.
Fruto deste empreendimento, também se introduziu no país o gás natural veicular e foram construídas as centrais eléctricas de Temane, Kuvaninga, Gigawatt, CTRG e Central Térmica de Maputo, com uma capacidade agregada de 452 megawatts de energia por ano, que corresponde a cerca de 40% do total da matriz energética nacional.
O Bloco de Búzi localiza-se em terra (onshore) na província de Sofala e possui uma extensão de 10.200 quilómetros quadrados. É nesta área onde ocorreu a segunda descoberta de gás natural em Moçambique, em 1962. Este bloco foi adjudicado à ENH em 2008, tendo esta mais tarde cedido 75 por cento de interesse participativo à Buzi Hydrocarbons, que é o operador.
Os trabalhos neste bloco encontram-se actualmente na fase da aquisição sísmica (2D), cujo principal objectivo é avaliar a descoberta do furo BS-01. Para isso, quatro linhas, em Búzi, serão usadas para maturar o prospecto e definir um novo local para a execução do furo de avaliação BS-03.
As outras linhas, ainda em Búzi e Machanga, serão utilizadas para avaliar o potencial de hidrocarbonetos nas zonas de Búzi e Divinhe, situadas no norte e sul do Bloco de Búzi, respectivamente. Este projecto envolverá 17 linhas em Búzi (499 quilómetros) e 19 em Machanga (551 quilómetros).
O Bloco de Mazenga, com 22.800 quilómetros quadrados, localiza-se em terra (onshore) na província de Inhambane. Foi concessionado na totalidade à ENH em 2019, entretanto, em Março de 2021, a ENH assinou um acordo de parceria com a MozGas Energy UK para a cedência de 80% das suas acções no bloco, ficando com os remanescentes 20%.
Esta parceria terminou em 2023, com a assinatura de um novo acordo para a entrada do grupo nigeriano Aiteo, que detém 70% do interesse participativo, e a ENH 30%. Esta parceria constitui uma oportunidade estratégica para Moçambique consolidar a sua capacidade técnica e para a ENH materializar a visão de se tornar operador a médio e longo prazos.
Existe um grande potencial de existência de gás neste bloco pela proximidade aos jazigos de Pande e Temane, e os dados adquiridos pelo Governo comprovam-no, sendo que os demais deverão ser adquiridos pelos concessionários.
Este bloco ainda está na fase da pesquisa, tendo já sido realizados trabalhos como reprocessamento de 300 quilómetros de sísmica 2D, interpretação de 1650 quilómetros de sísmica 2D, aquisição de 614 quilómetros dados sísmicos 2D e execução de dois poços de pesquisa, nomeadamente BS-01 e BS-02, em 2020.
Bacia do Rovuma
O projecto Mozambique LNG, também designado por MozLNG, prevê produzir 13.12 MMTPA de LNG, através de uma planta a ser instalada em terra na península de Afungi, distrito de Palma, em Cabo Delgado.
Orçado em 20 mil milhões de dólares americanos, este projecto irá monetizar os recursos descobertos nos reservatórios Golfinho/Atum, na Área 1, da Bacia do Rovuma.
Este poderá ser o primeiro projecto de LNG desenvolvido em terra firme em Moçambique, cujo início da produção, em grande escala, poderá posicionar o país como um dos maiores fornecedores desta fonte energética do mundo.
A Decisão Final de Investimento (FID) do projecto foi tomada em Junho de 2019, tendo as obras de construção iniciado em Agosto do mesmo ano, as quais, entretanto, estão temporariamente interrompidas na sequência da declaração de Força Maior por questões de segurança na província de Cabo Delgado, devido aos ataques terroristas que afectam algumas zonas.
A ENH detém uma participação de 15% no projecto da Área 1, estando a TotalEnergies, o operador, com 26.5% do interesse participativo, a Mitsui (20%), BPRL (10%), Oil India (10%), ONGC Videsh (10%) e PTT (8.5%).
Com uma produção de 15.2 MMTPA de LNG, este poderá ser o maior projecto de LNG de Moçambique, com potencial de elevar a posição do país para níveis mais estratégicos como fornecedor desta fonte energética.
Este projecto é também parte da Área 4, da Bacia do Rovuma, e será desenvolvido em terra firme, em infra-estruturas partilhadas com o Mozambique LNG, da Área 1, em Palma, Cabo Delgado.
Orçado em cerca de 23.6 biliões de dólares, o Rovuma LNG teve o seu Plano de Desenvolvimento aprovado pelo Governo em Maio de 2019, aguardando-se pela tomada da Decisão Final de Investimento (FID). Agora decorrem trabalhos de engenharia de ponta e concepção do projecto – Front End Engineering Design (FEED).
O Rovuma LNG tem dois operadores: a Eni, responsável pelas operações petrolíferas do upstream, e a ExxonMobil, responsável pelo controlo das operações do downstream, mormente na liquefacção.
A ENH detém uma participação de 10% no Rovuma LNG, a MRV (constituída pela Eni, 35.7%; ExxonMobil, 35.7%; e CNPC, 28.6%) possui 70%, enquanto a Galp e a Kogas têm cada 10% do interesse participativo.
O Coral Sul FLNG é o primeiro empreendimento de Gás Natural Liquefeito (LNG) em Moçambique. Em Outubro de 2022, iniciou a produção e exportação de LNG e condensado, permitindo a entrada da ENH e do país no mercado global desta fonte energética. O empreendimento preconiza a monetização dos recursos descobertos no depósito Coral, da Área 4, na Bacia do Rovuma, para produção de LNG através de uma plataforma flutuante no alto-mar.
Orçado em cerca de sete mil milhões de dólares norte-americanos, com uma capacidade de produção de 3.4 milhões de toneladas por ano (MMTPA), o Coral Sul FLNG é igualmente o primeiro empreendimento do género de África e o primeiro do mundo a ser desenvolvido em águas ultra-profundas.
Este é o primeiro dos três projectos da Área 4. Os outros são o Coral Norte FLNG e o Rovuma LNG, sendo que o primeiro será desenvolvido no mar (offshore) e este último na parte continental (onshore).
A ENH tem uma participação de 10% da Área 4, bloco que é operado pela Mozambique Rovuma Venture (MRV), com 70% do interesse participativo. A empresa portuguesa Galp e a companhia sul-coreana de gás Kogas detêm cada 10% do interesse participativo.
A MRV é constituída pela empresa italiana Eni (35.7%), pela americana ExxonMobil (35.7%) e pela chinesa CNPC (28.6%). A Eni é o operador designado pela MRV para o Coral Sul FLNG.