Para uns, é uma grande novidade, pela qual muito ansiavam; para outros, já faz parte do seu quotidiano e conhecem-lhe perfeitamente as vantagens. Mas, para todos, ressaltam os mesmos elogios: o gás natural canalizado é mais barato, mais seguro, fácil de controlar e de adquirir.
Sacire Viagem é professor e vive no bairro 7 de Setembro, na cidade de Vilankulo. A sua família consome gás canalizado desde 2022. Foi abrangida pela quarta fase de expansão deste recurso no norte da província de Inhambane e deixou, desde então, de usar gás de botija e carvão.
Conta que só o gás de botija lhe custava por mês cerca de mil meticais, mas não dava para preparar pratos que levam muito tempo a cozer, como o feijão, por exemplo. Por isso, tinha de comprar ainda carvão, que à semelhança da lenha vem de fora do raio urbano, por isso caro.
“Os mil meticais que antes gastávamos em um mês com o gás de botija agora chegam para dois meses. É que o gasto mensal com o gás canalizado é de 480 a 500 meticais. Estamos a pensar até em colocar termoacumulador a gás para diminuir os custos com energia”, conta.
Além do custo mais baixo, Viagem destaca como vantagens do uso do gás canalizado a facilidade de compra usando plataformas como E-Mola, M-Pesa, a possibilidade de controlar o consumo, como acontece com o Credelec, sistema de compra de electricidade.
“Quando se usa botija, nunca se sabe quando vai acabar, diferentemente do gás canalizado, que se pode controlar e ainda se comprar logo que acabar”, congratula.
Por sua vez, Isménia Vilankulo, doméstica, do bairro 16 de Junho – Alto Macassa, consome gás natural canalizado desde 20 de Junho do corrente ano e também está feliz com a experiência.
Foi abrangida pela quinta e sexta fases de expansão do gás canalizado no norte da província de Inhambane recentemente terminadas, que compreenderam 911 ligações domésticas, sendo 506 em Vilankulo, 343 em Inhassoro e 62 em Govuro.
Revelou que antes de ter gás canalizado usava lenha e gastava muito dinheiro, entre 600 e 900 meticais por mês, gastos que vão baixar muito agora. É que aquando da ligação comprou gás de 468 meticais que quase fechava um mês à altura da entrevista à nossa reportagem.
“Aconselho as pessoas a aderirem a iniciativas de ligação do gás canalizado, tem muitas vantagens. Além do baixo custo, há facilidades de aquisição, podendo mesmo ser a partir do M-Pesa ou E-Mola”, esclarece.
Na verdade, “todo o mundo corre para o gás”, pelas vantagens que representa, tal como refere Pedro Maguni, florista, do bairro 7 de Setembro, zona D, também em Vilankulo. Visitámos a sua residência num dia em que técnicos da ENH terminavam os trabalhos de ligação, e ele não via a hora de começar a usar o gás.
“A chegada do gás vai contribuir para baixar o custo de vida. Agora uso lenha, que vem de fora da área municipal. Experimentei carvão, mas não suportei os custos, gastava muito dinheiro, uns mil meticais por mês. Quando começar a usar o gás, as contas de casa vão melhorar”, perspectivava.
O consumo do gás natural canalizado no norte de Inhambane começou em 1992, fornecido a partir de um dos furos do jazigo de Pande, designado Pande 7. Na altura, este recurso era usado para geração de energia eléctrica, que, numa primeira fase, alimentava a Delegação da ENH em Vilankulo.
Posteriormente, o gás passou a abranger outros consumidores, primeiro, em Vilankulo, e, depois, em Inhassoro e Govuro, com a implantação da rede de distribuição de gás natural canalizado.
Em 2012, a ENH lançou uma campanha de expansão da rede e massificação das ligações, com financiamento da sua afiliada Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH). Quando o projecto iniciou, a rede tinha uma extensão de cerca de 260 quilómetros, abrangendo 220 consumidores nos três distritos. Ao fim da sétima fase, este ano, a rede possui mais de 670 quilómetros, incluindo ramais de cerca de 75 quilómetros no mar que levam esta fonte energética para o Arquipélago de Bazaruto.
Por seu turno, o número total de consumidores domésticos no norte da província de Inhambane totaliza 3128, dos quais 2113 em Vilankulo, 723 em Inhassoro e 293 em Govuro, regiões onde se contabilizam ainda 49 consumidores comerciais e três industriais.
Entretanto, o Delegado da ENH em Vilankulo, Reis Mudavanhe, refere que há muitos pedidos de ligações de gás canalizado que não têm resposta à altura devido a limitações diversas.
“As pessoas querem gás canalizado porque descobriram que é barato e seguro. Aqui em Vilankulo temos mais de dois mil pedidos de ligação, mas não tem sido possível responder a todos. O primeiro factor tem a ver com o ordenamento territorial, que é deficiente, e em segundo lugar está a questão do orçamento, que é baixo, associada ao alto custo do material de canalização do gás”, explicou.
Refira-se que o gás natural é uma fonte de energia mais limpa em comparação com a lenha e o carvão vegetal, cujo uso cada vez maior tem estado a contribuir para a redução do desflorestamento para produção de lenha e carvão; para o desenvolvimento de pequenas indústrias e negócios, assim como para a retenção da rapariga na escola, com impacto positivo na sua formação.